Entendendo a vigorexia

Vigorexia, overtraining ou supertreinamento ocorre quando a intensidade e frequência da atividade física supera a capacidade da musculatura se recuperar. Isso pode causar perda de massa muscular, fadiga muscular crônica, dores musculares crônicas e desmotivação.

Apesar de o termo vigorexia ser um neologismo e não ser considerado um termo médico, ele tem aparecido cada vez mais nas discussões sobre treinamento para ganho de massa muscular e para aumento de desempenho de atletas.

É normal que os atletas sintam alguma fadiga muscular e pequenas variações na performance ao longo dos dias e das semanas. Também é normal que eles realizem sobrecargas temporárias de treino, com o objetivo de superar suas metas anteriores. Esse tipo de sobrecarga é conhecido por overreaching, que não tem um termo correspondente em português, mas poderia ser traduzido como ultrapassagem, no sentido de que o atleta está ultrapassando os próprios limites.

Entretanto, quando a rotina de treinamento é excessiva, não há tempo suficiente para que  o tecido muscular se recupere. Nesse caso, em vez de melhorar a capacidade, o atleta começa a perceber queda da performance, apesar de estar se esforçando muito, o que pode levá-lo ter transtornos do humor, como depressão. Alguns estudos mostram que essas pessoas costumam ter distúrbios do sono e chegam a ter diminuição da resistência do organismo às infecções (imunossupressão).

O motivo do uso do termo vigorexia possivelmente tem a ver com o fato de o culto ao corpo ser muito comum na nossa sociedade. Esse padrão de beleza baseado na forma física estabelece que os homens idealmente devem ter um corpo musculoso e definido (vulgo “sarado”), devem ser viris, atraentes e sexualmente disponíveis.

Para as mulheres, existem dois padrões concorrentes. Um deles é o das modelos extremamente magras e com corpo infantilizado. O outro tem semelhanças com o do modelo masculino, pois as mulheres exibem uma musculatura e curvas que só conseguem ser adquiridas uma rotina de treino bastante intensa.

Como esse padrão de beleza está longe de ser atingido pela maioria das pessoas “normais”, é comum a sensação de que não se está dentro desse padrão. Essa sensação é particularmente prejudicial na adolescência e é possível que isso esteja relacionado com o aumento da incidência de transtornos alimentares, nos quais os pacientes podem realizar treinamentos físicos excessivos como forma de comportamento compensatório.

Devido à falta de critérios precisos para se estabelecer o diagnóstico do overtraining, não se sabe ao certo qual a incidência desse problema dentre os atletas. Porém, alguns estudos sugerem que este problema ocorra em cerca de 15% dos esportistas enquanto outros estudos sugerem que essa taxa possa chegar a 40%, sendo mais comum em homens do que em mulheres e mais comum em esportes individuais do que coletivos (times).

É importante que o treinamento físico conte com a orientação de profissionais de educação física e que estes estejam atentos aos sintomas da vigorexia, particularmente os relacionados ao estado de humor, como desmotivação apesar de intensos esforços.

Referência: Halson, SL and Jeukendrup, AE. Does Overtraining Exist? An Analysis of Overreaching and Overtraining Research. Sports Med 2004; 34 (14).

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